Nenhuma empresa de tecnologia possui uma associação tão forte à inovação quanto a Apple.
Uma aura de novidade sempre rondou a marca da maçã, e também a pessoa carismática de Steve Jobs, que por muitos anos liderou brilhantemente cada apresentação de produto, e ajudou a criar essa aura de mágica em volta dos produtos que saíam de seus bolsos (e do seu envelope! Lembra da introdução do MacBook Air?).
Após a morte de Jobs em 2011, porém, pouco de realmente impressionante foi trazido ao público, para desânimo dos entusiastas da Apple. Uma legião de fãs se sentiu abandonada e desamparada, e o caráter inovador da Apple começou a ser duramente questionado, inclusive pelos velhos e fiéis defensores da marca. Até que um anúncio, por muitos tomado como irrelevante, trouxe uma mudança tão radical que o próprio mercado demorou a reconhecer o que estava acontecendo: veio a público o projeto Apple Pay.
Apple Pay: um grande impacto que vamos demorar a sentir
Geralmente, as grandes criações estão à frente de seu tempo, e tanto o mercado quanto o público demoram a perceber todo o potencial e o significado delas. Podemos considerar o Apple Pay dentro desta categoria, pois apesar do seu anúncio oficial, ainda não temos noção de qual será a verdadeira mudança iniciada por este sistema de pagamentos.
O funcionamento do Apple Pay é tão simples que chega a ser banal. Para adicionar os dados do cartão de crédito no Passbook, aplicativo nativo dos iPhones, basta capturar a imagem do cartão com a câmera do smartphone, ou digitar manualmente. Ou ainda, é possível buscar os dados de um cartão já configurado na conta do iTunes, apenas confirmando o código de segurança.
E para realizar o pagamento, pouca burocracia e bastante praticidade: ao aproximar o iPhone do sensor de cobrança, há uma notificação e o usuário confirma tocando no Touch ID do aparelho. E o pagamento já foi feito.
De fato, parece ser bom demais para ser verdade. E é! Pelo menos no Brasil, onde essa modalidade de pagamentos digitais pode demorar bastante para ser adotada pelo Varejo, pois ela depende de usuários que tenham um iPhone 6 ou 6 Plus, ou ainda um Apple Watch pareado com um iPhone 5 ou superior. Mas ao redor do mundo já são 220.000 estabelecimentos que aceitam o Apple Pay como forma de pagamento, e os números crescem a cada dia.
A expectativa é que este formato de pagamento esteja popularizado em 4 ou 5 anos a partir do seu lançamento. Em termos de tecnologia, uma eternidade.
Seria o Apple Pay uma tendência tecnológica?
É complexo e arriscado falar sobre tendências, mas certamente, as formas digitais de pagamento serão algo muito trivial em um futuro próximo. Imagine que, há 10 anos, poucas pessoas imaginavam como poderíamos um dia fazer as compras da feira na internet, ou pagar contas usando um celular. Talvez 4 anos seja um espaço grande demais de tempo, e algum evento pode causar a adoção do mobile payment em apenas dois anos, por exemplo.
Em um determinado momento, toda transação era feita através de papel moeda. O cheque foi um avanço imenso, pois possibilitava que montantes enormes de dinheiro fossem movimentados usando apenas uma folha de papel. E o cartão de crédito evoluiu este conceito, e uma única peça movimentava grandes volumes de dinheiro sem problemas, e poderia ser reutilizado várias vezes para a mesma finalidade. Quem poderá prever o que as novas formas de pagamento trarão de praticidade aos usuários?
E por que o Apple Pay pode dar certo onde outros falharam?
É verdade, o Apple Pay não é um sistema pioneiro em nada. De fato, o Google Wallet, sistema do gigante de buscas, funciona de forma parecida e foi lançado bastante tempo antes, em meados de 2011, ou seja, 3 anos antes do seu concorrente.
Porém, o Google Wallet não pegou. Ninguém, a não ser os entusiastas do sistema operacional Android e alguns geeks early adopters, usava o Wallet para pagamentos digitais, e assim os estabelecimentos não adotaram massivamente o formato. Parecia uma tecnologia um pouco distante das pessoas, e o desconhecimento e a insegurança dificultaram a penetração do Google Wallet no mercado.
Já o Apple Pay estreia com a já conhecida usabilidade e simplicidade que são marcas registradas da maçã. Ao invés de ter que digitar uma senha, como no Google Wallet, o usuário utiliza a sua digital para validar a operação. E como até o cadastro dos cartões de crédito é simplificado, o formato de pagamento da Apple demonstra fortemente que já largou na frente, mesmo tendo saído 3 anos depois do rival.
Ambas tecnologias utilizam o NFC (Near-Field Communications, ou comunicações em campos de proximidade), mas as semelhanças não vão muito além disso. Com o Apple Pay, um processo de pagamento pode levar apenas segundos, ao passo que o usuário do Google Wallet ainda está tentando lembrar seu PIN para conseguir liberar a cobrança através do seu smartphone.
Pagamentos digitais: o início de uma revolução mercadológica
Muitos veem o Apple Pay como uma firula tecnológica, ou uma facilidade que não será aplicada massivamente em nossas vidas. Mas a verdade é que este é mais um aspecto da mudança que está por vir: a reinvenção do comércio como conhecemos.
Hoje, já é possível rastrear produtos em automaticamente em lojas e centros de distribuição com a tecnologia RFID (Radio-Frequency IDentification), e o rastreamento de compras pela internet funciona razoavelmente bem. Hoje, compramos pela web coisas que antes não aceitávamos encomendar pelos catálogos impressos. E hoje, as formas de pagamento são variadas e acessíveis, mas ainda não atingiram a praticidade que precisamos de verdade.
O e-commerce vem crescendo absurdamente e ainda tem muito espaço para expansão, principalmente no Brasil, onde grandes parcelas da população ainda não estão online ou sequer possuem dispositivos capazes de conexão com a internet.
Todo esse cenário aberto e em expansão deixa claro que há muito o que mudar até que nossa rotina de pagamentos seja alterada tão radicalmente. Mas, até lá, podemos ter uma certeza: a revolução dos pagamentos digitais, que um dia foi nada mais do que um sonho distante, começou a se tornar realidade com um sistema simples e que chegou sorrateiramente ao mercado para mudá-lo para sempre: o Apple Pay.