Nos últimos anos atendemos diversos museus e centros de memória no Brasil. Ao longo desses projetos, aprendemos muito. Cada conversa com especialistas e com o público nos deu um ensinamento do que precisa ser feito.
Já falamos neste blog que museu não pode ser coisa do passado, e que o público quer ser surpreendido e encantado. Se o seu trabalho envolve desenvolvimento de museus e centros de memória, sabe o que estou falando. Informação, cultura e história precisam andar de mãos dadas com entretenimento para cativar as pessoas.
Neste artigo, vamos tratar de diversos tópicos:
- Estrutura da exposição
- Equipamentos interativos para exposições
- Conteúdo que deve ser apresentado
- Software interativo para informar e entreter
- Gestão de conteúdo das exposições
- Coleções fixas e temporárias
- Resposta do público - como ouvir e evoluir
- Idiomas - como atender turistas e estrangeiros
- Acessibilidade - como atender todas as pessoas
O que você quer contar?
Seja nos maiores museus do mundo ou em pequenos memoriais, sempre existe uma história sendo contada. Ou mais de uma história.
Defina sua narrativa em poucas frases. É isso que vai orientar seu trabalho daqui pra frente. É isso que o visitante deve levar para casa, ao sair de seu museu.
Exemplos:
- Guimarães Rosa foi um grande escritor. Mas poucos sabem que ele também foi médico e diplomata. O museu vai apresentar sua obra e seus personagens, além de mostrar objetos particulares e cenários retratados por ele.
- Chiaroscuro é uma técnica de pintura a óleo, desenvolvida durante o Renascimento, que usa fortes contrastes para destacar luzes e sombras. O museu mostrará a origem dessa técnica a partir de análise de grandes pintores espanhóis e italianos.
- A empresa ABCXYZ tem 80 anos. Foi fundada por imigrantes italianos e se tornou uma das maiores fabricantes de tecidos do Brasil. O museu mostra sua trajetória e suas conquistas, ilustradas por documentos e objetos que fazem parte de sua história.
- O cinema só foi possível com a evolução da tecnologia. Neste museu, vamos contar a ligação da ciência com a Sétima Arte, desde os projetos dos Irmãos Lumière aos efeitos especiais de Hollywood.
Estrutura da exposição: começo, meio e fim
Você já sabe o que vai contar. Agora o desafio é como contar. Qualquer história pode ser narrada de diversas maneiras.
Para memoriais, que são geralmente ligados a instituições, o formato mais comum é mostrar que aquela empresa é importante e tem grandes qualidades. A apresentação terá a origem e os principais resultados da empresa ao longo do tempo, até chegar ao momento atual.
Para exposições relacionadas a personalidades, temos também uma linha do tempo, com superação de obstáculos até se chegar a uma posição de destaque da pessoa. Os visitantes buscarão informações e conteúdo que os coloquem mais próximo desse personagem central.
Dicas para definir sua estrutura:
- Encontre o começo, meio e fim de sua história. É importante organizar sua exposição em partes, começando por uma origem e avançando passo a passo.
- Concentre sua energia nos pontos mais relevantes. Quais os elementos mais importantes de sua história? O que é mais surpreendente? Que detalhes as pessoas não sabem antes de chegar ao museu?
- Evite modelos lineares. Um formato de exposição de que gostamos é o não linear. Isso significa que podemos andar livremente pelo museu, sem seguir uma ordem exata de visitação. Quando um pedaço da exposição está cheio, podemos simplesmente pular e voltar depois. Uma coisa que não se deseja em um museu é uma experiência chata e cronometrada, com filas para ver a próxima informação.
- Vamos por partes. Divida sua exposição em partes que façam sentido. Não tente colocar informações demais em um mesmo espaço. Isso é importante porque ajuda a compreensão e também porque promove o fluxo no museu. Se você tiver uma área densa em conteúdo, que exija que a pessoa fique muito tempo ali, vai gerar um acúmulo de visitantes naquele espaço.
- Equilíbrio entre forma e conteúdo. Já reparou que todo quadro vem acompanhado de um papelzinho explicativo nos museus? O conteúdo visual é sempre mais importante, mas não deixe de colocar conteúdo também. Textos e guias podem oferecer a explicação necessária para valorizar os itens apresentados.
- Qual é sua Monalisa? Todo museu precisa ter sua Monalisa. Em sentido figurado, isso significa que a exposição deve ter um ou mais elementos que se destaquem. Muitas vezes isso pode ser um elemento interativo, ou uma apresentação multimídia, ou algum objeto de grande valor histórico.
Conteúdo que deve ser apresentado
"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original".
Sempre me lembro de museus quando vejo essa frase, adaptada do original de Oliver Wendell Holmes Sr. e muitas vezes atribuída a Albert Einstein.
Para conseguir o impacto desejado e "abrir" a cabeça dos visitantes, um museu deve ter um conteúdo de primeira linha.
Dicas para produção de conteúdo:
- Comece pelo material que você já tem. Documentos, fotos, vídeos, objetos. Tudo que possa ilustrar o começo, meio e fim da sua exposição. Essa organização inicial ajuda a identificar "buracos" que precisam ser resolvidos.
- Descubra o que o visitante não sabe. Lembre-se: o visitante quer aprender algo novo. Que informações você pode passar para eles que sejam ao mesmo tempo úteis e surpreendentes?
- Adapte seus materiais. Raramente seu conteúdo está pronto para a exibição. Você terá que editar um vídeo antigo em VHS para pegar as cenas mais importantes, e precisa escolher as melhores fotos entre as centenas que achou.
- Produza novos conteúdos. Quando tiver uma visão geral da estrutura e dos materiais já disponíveis, você também conseguirá identificar o que está faltando.
Equipamentos interativos para exposições
Os museus de antigamente tinham placas de "não toque nas peças". É exatamente o oposto do que sugerimos hoje em dia.
Claro que algumas peças não podem ser tocadas pelo público para evitar danos, mas isso não significa que sua exposição seja inacessível. Um livro histórico pode ser lido digitalmente, por exemplo. É o que fizemos no museu do TRT da 24ª Região.
Há outras soluções para levar tecnologia em sua exposição, como realidade aumentada e paineis com projeções interativas, mas nada disso tem a mesma flexibilidade dos equipamentos touchscreen.
As telas interativas são uma "prateleira digital" para você expor seu conteúdo. Podemos usá-las em totens, com a tela na vertical, horizontal ou inclinada, ou presas a paredes e painéis da exposição.
São sempre um dos pontos mais destaque em qualquer museu. Vimos isso no Espaço do Conhecimento UFMG, onde fizemos a primeira mesa multitoque de grande formato no Brasil.
Dicas para os equipamentos interativos em seu museu:
- Escolha o tamanho ideal de tela interativa. Quanto maior a tela, maior o impacto visual. Essa é a regra principal, lembrando que museus vivem de seu impacto. Na maioria das exposições usamos telas de 40 ou 55 polegadas, que tem uma boa relação custo / benefício. Só use telas pequenas se seu orçamento for limitado ou se fizer mais sentido na exposição. Recomendamos telas de no máximo 21 polegadas, por exemplo, para interações individuais como pesquisas de opinião.
- Defina a quantidade de telas de acordo com seu fluxo de visitantes. Geralmente basta uma tela interativa por estação do museu. Se uma pessoa estiver usando, o outro visitante pode andar até outra. Lembre-se do que falamos sobre fluxo não-linear em museus. Mas é preciso um certo equilíbrio. Se tivermos uma atração em que as interações são individuais (jogos, cadastro ou busca no acervo, por exemplo), talvez seja necessário ter várias telas para atender o público.
Software interativo: Showcase
Você tem duas opções para software em suas exposições:
- Usar uma plataforma interativa já existente, adaptando às suas necessidades.
- Criar algo do zero, sob medida para sua exposição
Em nossos projetos, usamos Showcase em 100% dos museus atendidos e em 95% das estações interativas.
Com Showcase, temos uma plataforma completa para apresentar conteúdos interativos em seu museu ou centro de memória. Apresentamos fotos, vídeos, páginas web, fichas técnicas, documentos e tudo mais que você quiser.
O vídeo a seguir mostra a apresentação interativa do Centro de Memória da Unimed BH. Observe a variedade e a quantidade de conteúdo que pode ser apresentada com Showcase.
Dicas:
- Conheça os recursos de Showcase. Showcase é uma plataforma madura e completa, que permite a criação de apps sem uso de código. Basta enviar sem conteúdo e nossa equipe desenvolve uma apresentação de alto impacto.
- Lembre-se que teremos muitas pessoas interagindo. Showcase bloqueia o acesso ao sistema operacional, evitando que seu público saia da aplicação. Além disso, o app se reinicia após alguns minutos e volta para uma tela inicial. Tudo isso serve para que os visitantes tenham uma boa experiência no museu, sem surpresas e sempre da mesma forma.
Software interativo: módulos especiais
Quando Showcase não atende plenamente às necessidades, desenvolvemos módulos especiais. Isso acontece, por exemplo, quando precisamos de uma interface muito diferente para apresentar o conteúdo.
Os vídeos abaixo mostram módulos especiais desenvolvimentos para o Museu do TRT da 24ª Região.
Linha do Tempo Interativa - - Museu do TRT da 24ª Região
Organograma do Poder Judiciário - Museu do TRT da 24ª Região
Gestão de conteúdo das exposições
Nem sempre o conteúdo está perfeito e completo no dia da inauguração.
Por isso é importante que o app possa ser editável. Você consegue mudar o conteúdo? É fácil acrescentar novas fotos e vídeos?
Todo elemento interativo precisa ser editável, seja para corrigir erros ou para acrescentar novas informações. Isso é ainda mais importante nas exposições que sejam sempre atualizadas, como histórico de uma empresa, prêmios de uma personalidade ou números de uma instituição.
Dicas para gestão da interatividade em sua exposição:
- Tenha ferramentas de gestão. A boa notícia é que Showcase já tem um sistema de gerenciamento integrado. Você faz a edição pela internet e o app se atualiza automaticamente.
- Seja melhor a cada dia. Encontre formas de evoluir suas interações. Alguns dos nossos melhores projetos passaram por mudanças ao longo do tempo.
- Seja consistente no processo de atualização. Faça auditorias regulares em seu conteúdo, principalmente nos que precisam passar por atualizações constantes. Monte uma agenda semanal ou mensal para verificar e corrigir tudo.
Coleções fixas e temporárias
Pelo menos uma parte de sua exposição precisa mudar regularmente, caso tenha interesse em visitas recorrentes de seu público.
Por isso, vários museus têm um equilíbrio entre acervo permanente e exposições temporárias.
O acervo permanente é a estrutura principal do museu, com os conteúdos mais relevantes ao contexto e ao tema proposto. Muitas vezes exigem maior investimento para criação e pesquisa.
Já as exposições de curto prazo servem para abordar um tema específico e são mais leves em conteúdo e estrutura. Serve como argumento para trazer de volta quem já conhece seu museu e para atrair visitantes com novos argumentos.
Pense também na mobilidade de parte do museu. Você não precisa ficar restrito ao seu conteúdo ou às suas paredes. Pode usar uma coleção itinerante, que veio de outro museu ou colecionador, ou uma parte de seu acervo pode ser levada para um shopping ou evento.
Dicas para suas coleções:
- Mostre o que está oculto. Muitas vezes, no processo de concepção do museu, deixamos de lado algum aspecto da história que queremos contar. Que tal usar uma exposição temporária para exibir esse pedaço que estava em segundo plano? Você pode descobrir algo novo que vai agradar e surpreender o público.
- Mude sempre. Nesse ponto, Showcase é uma excelente solução, pois permite fazer as alterações de forma fácil.
- Mantenha a energia em alta. As pessoas adoram novidades. Mudanças no seu mix de exposição mostram que você se preocupa em manter o museu em evolução.
Resposta do público - como ouvir e evoluir
O museu é feito para a comunidade e para o público. Se não estamos agradando os visitantes, então uma das funções primordiais não está sendo cumprida.
Você precisa escutar a opinião dessas pessoas. De preferência, mesmo na fase da concepção, captando as dúvida e desejos em relação ao seu tema. Com as exposições prontas, é hora de descobrir se tudo deu certo. Alcançamos nossos objetivos? Conseguimos contar a história proposta?
Dicas para ouvir seu público:
- Visite seu museu como se fosse a primeira vez. Faça um exercício. Percorra o museu (mentalmente durante o projeto, e fisicamente depois que estiver pronto) como se não soubesse nada sobre o assunto. Qual é sua impressão? Conte para outra pessoa o que você viu e sentiu.
- Observe os visitantes. Quais partes do museu ficam mais cheias? Quais geram perguntas aos guias? Onde eles parecem mais surpresos, felizes, confusos?
- Faça perguntas. Converse informalmente com as pessoas enquanto estiverem visitando a exposição. Use questionários padronizados quando eles estiverem saindo. Conheça a opinião de homens, mulheres e crianças. Escute as professoras que levaram seus alunos. Tudo isso vai ajudar a entender os pontos fortes e fracos da exposição, além de identificar elementos que os fariam voltar ao museu novamente.
Idiomas - como atender turistas e estrangeiros
Alguns museus atraem visitantes de outros países, principalmente em cidades turísticas e em regiões de fronteira. Se esse é seu caso, é adequado que suas exposições estejam prontas para apresentar conteúdo na língua de seus visitantes.
Dicas para oferecer conteúdo localizado:
- Tudo depende do seu público. O idioma principal no Brasil é o português e, para a maioria dos museus, é o único que precisa ser apresentado. Idiomas adicionais vão depender da nacionalidade dos seus visitantes. Para um museu sobre arte da China, por exemplo, o mandarim pode ser tão importante quanto o inglês.
- Nem todo conteúdo precisa de tradução. Traduza as partes mais relevantes de seu conteúdo. Os vídeos podem ser legendados, por exemplo. Mas alguns documentos podem ser traduzidos parcialmente. Nesse caso, ofereça um resumo ou as frases de destaque.
Acessibilidade - como atender todas as pessoas
O Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que quase ¼ da população brasileira (23,9%) tem algum tipo de deficiência, o que representa cerca de 45,6 milhões de pessoas.
Seu conteúdo precisa ser acessível para todos os visitantes. Talvez a percepção de cada um seja diferente, de acordo com suas características pessoais, mas devemos encontrar meios de elevar nossa capacidade de informar e entreter.
As principais demandas são para deficientes visuais, cadeirantes e pessoas de baixa estatura. Já tivemos pedidos também para conteúdo pela Língua Brasileira de Sinais (Libras), de forma a atender pessoas com deficiência auditiva.
Esse assunto é sensível também por questões técnicas e legais, como a Lei do Deficiente Físico (Lei n° 10.098, de 2000), Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146, de 2015) e normas da ABNT de acessibilidade, como a NBR 9050.
Dicas de acessibilidade para museus:
- Siga as recomendações. O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) tem um material bem complexo, elaborado por Regina Cohen, Cristiane Duarte e Alice Brasileiro. Você pode baixar o guia neste link.
- Fale com especialistas. Avalie seu projeto com consultores especializados em acessibilidade. Isso é importante fazer essa avaliação desde o começo e colocar como requisito, para evitar problemas depois.
- Faça testes com seu público. Talvez no papel seu museu seja bem acessível. Mas e na prática? Acompanhe visitantes em sua visita para identificar formas de melhorar. Às vezes não basta seguir as regras. Você pode inclusive criar módulos e espaços para satisfazer as necessidades desse público.
Conclusão
Inovação em museus não é uma tarefa simples. Se você está envolvido na concepção de um museu ou centro de memória, desejo muita sorte em seu desafio.
A experiência dos visitantes se tornou o ponto central na concepção, juntamente com os acervos. Por isso, a interatividade veio para mudar o conceito das exposições.
Conte com a Aqua nesse processo. Podemos ajudar em todas as etapas, da concepção à gestão de suas exposições.