Ao pensar em museus, a primeira imagem pode ser de um espaço silencioso e monótono, apenas com elementos antigos em prateleiras e expositores. Felizmente, essa é uma visão que não condiz com a realidade atual. Afinal, as exposições mais recentes contam, cada vez mais, com tecnologia e interatividade.
Pensando nessa transformação digital que abraça o setor, convidamos João Paulo Corrêa e Marcelo Selau, fundadores da empresa de museologia Viés Cultural, para um bate-papo.
A Viés Cultural foi responsável por diversos projetos inovadores, como o Museu Histórico da Colônia Castrolanda e o Museu Histórico de Entre Rios. Esses espaços agrupam curadoria digital dos mais variados conteúdos, além de painéis interativos que permitem ao público se conectar com a história.
E agora, João Paulo e Mauricio, que já atuam há mais de doze anos no setor de museus e centros de memória, conversam com a gente numa entrevista que envolve história, curadoria digital e tendências de mercado.
Como funciona o processo de aliar a tecnologia aos museus?
João Paulo: - No princípio da Viés Cultural nós visitamos exposições e observamos muitos contrapontos. Geralmente a estética do museu é muito clássica, engessada, somente com informações escritas e objetos, enfim, tradicionais. Ou o oposto, que é a tecnologia pela tecnologia. Então a gente se sentiu desafiado pelos dois lados e pensamos “eu não quero nenhuma das duas pontas, não é isso que vai fazer um museu de boa qualidade.” Afinal, não adianta a gente ter tecnologia e não ter a história do objeto. E também não adianta ter uma boa pesquisa, um bom texto na parede e não ter outro tipo de interatividade, nem outro tipo de relação entre o visitante e a exposição.
Maurício: - Por exemplo, se eu quiser pesquisar sobre alguma temática pontual, não preciso folhear um material gigantesco. Posso buscar sobre determinada década e temática. Outra pessoa vai cruzar informações, favoritar uma foto para mostrar a um familiar que está vendo uma outra informação em outro espaço do museu e daqui a pouco irá se deslocar pro mesmo ambiente.
Então, em projetos que assinamos, nós tivemos a felicidade de conseguir até aqui o apoio da Aqua e encontramos a melhor maneira de dar interatividade para conteúdos em apresentações que façam sentido na narrativa da exposição. Não importa se é o Museu de História, Museu Temático ou Museu de Artes. A tecnologia permite a interatividade, mas precisa estar conectada com o tema do museu para fazer sentido.
Então, o trabalho que nós temos para montar uma exposição com tecnologia tem a mesma seriedade necessária para fazer uma exposição que vai para um banner. Por isso, nós valorizamos que a pesquisa sobre o tema seja bem feita. Conforme ela acontece nós avaliamos quais são os recursos que serão mais apropriados para aplicar na exposição.
Vocês atendem diferentes públicos, seja em capitais ou cidades do interior. Como isso funciona?
João Paulo: - O desafio é um desafio, não importa o tamanho da cidade. Atuamos dentro da estrutura que esse museu pode ter e que atenda com qualidade uma cidade pequena ou com milhões de habitantes. Isso prescreve o trabalho de uma empresa na área museológica, que faz a assessoria e aporte tecnológico. Toda instituição museal tem que ter um plano museológico, uma política de acervos e estar estruturada para bem receber o público de modo otimizado e que gere entretenimento.
Maurício: - Quando a gente elabora um plano museológico, e a lei diz que ele tem que ser de forma participativa, nós efetivamente fazemos ele de forma viva. Ali você consegue definir o perfil da instituição museológica, a missão e visão dela, quais são os valores que ela vai defender e, em cima disso, traçamos um planejamento de curto, médio e longo prazo para os programas que a lei diz que o museu precisa atender. Em seguida, atuamos junto a esse espaço acompanhando a implantação do plano e o desenvolvimento das ações técnicas para qualificação do museu.
Como vocês analisam o cenário da Museologia no Brasil atual?
Maurício: - Do ponto de vista do cenário de museus, hoje ele nos parece no Brasil muito mais promissor do que quando começamos a empresa há doze anos. O setor de museus no Brasil foi crescendo e teve um boom na primeira década do século XXI em termos de expansão do conhecimento, existe uma ciência dedicada aos museus no Brasil - a museologia. Com a criação do Estatuto de Museus e de uma série de mobilizações da área museológica, surgiram vários documentos, prêmios e algumas iniciativas de fomento que ajudaram os museus a se desenvolverem. Então, nesse ponto, o cenário hoje é melhor do que há vinte anos, por exemplo.
Eu vejo que muitos museus que por muito tempo funcionaram bem numa proposta tradicional e que hoje sentem que o público se afastou do museu ou que o interesse em torno desse museu reduziu. Eles entenderam que, se tiverem uma assessoria museológica adequada, eles vão conseguir dar a resposta que o museu precisa. Então, ali hoje há um cenário que está em expansão.Esse mercado se mostra cada vez mais promissor e cada vez mais aquecido.
Quais tendências estão mais evidentes para o mercado de museus?
João Paulo: - Uma coisa que é desejada por parte dos museus é ter elementos de tecnologia e interatividade.
Vamos pegar nossa própria realidade. Fomos mexer em smartphones já adultos. Nossos filhos usam esses aparelhos desde cedo, então eles estão no mundo em que o digital é muito presente. Isso faz parte da infância deles. Não vou dizer que é natural, mas há uma tendência de que os espaços que atendem o público fiquem cada vez mais digitalizados.
Quer dizer que o digital vai substituir a experiência do presencial na questão dos museus? Pode ser que um dia sim, mas eu não vejo isso acontecendo num horizonte tão rápido. A experiência de ir ao museu é a mesma história do cinema. Você tem um mundo de opções para assistir filmes em casa, mas a experiência de ir ao cinema é única, com o museu é a mesma coisa.
Maurício: - Você hoje tem várias plataformas com amplas formas de acesso, exposições que talvez a pessoa não iria presencialmente e, por conta de acessá-las digitalmente, muitas vezes adquire interesse de ir fazer uma visita presencial. Então, a experiência presencial do museu é ainda muito forte e deve continuar sendo, com cada vez mais elementos de tecnologia que permitam uma experiência de proximidade com o digital.
Outra coisa que se observa é que, para o museu ser atrativo no futuro, será preciso sair daquela ideia tradicional, que não dialoga ou que não inova na maneira de apresentar o conteúdo. Então, a transição que está sendo feita é para criar um ambiente de exposição com mais aconchego e que tenha uma maior capacidade de atratividade.
Saiba mais
A Aqua realiza um trabalho repleto de inovação para o setor de Memória com Showcase Museus, plataforma para criação e gerenciamento de estações interativas em museus, centros de memória e espaços culturais.
Confira mais detalhes sobre a Viés Cultural no site deles. Além de serem nossos parceiros, eles têm larga experiência em museologia e planos museológicos.
Confira outros artigos do nosso blog sobre a relação entre museus e tecnologia, como o nosso guia de boas práticas para interatividade em museus e como usar tecnologia para seu museu não ser uma coisa do passado.